Terça-feira, 31 de Março de 2009
Artigo no Jornal Público
30.03.2009, Carlos Cipriano
Em Portugal a construção de auto-estradas - de qualquer auto-estrada - é sempre pacífica e raramente se questiona a sua utilidade social ou se debate a análise custo-benefício (quando este existe) em que se baseou a decisão. Uma nova rodovia é, por definição, um bem para os portugueses. E mesmo que se trate de uma auto-estrada caríssima para ligar povoações com fraca densidade populacional, assume-se que esta é útil para combater o isolamento e que a "coesão social" a justifica.
Não por acaso, o Presidente da República alertou na semana passada para a necessidade de em Portugal se tomarem decisões acertadas quanto a custos e benefícios. "Em Portugal, ainda se confunde custos com benefícios. Uma estrada é toda ela custos. O benefício é o trânsito que passará nela. Se não houver trânsito, não há benefício, é zero", disse.
Em contrapartida qualquer decisão sobre uma nova linha férrea provoca as discussões mais apaixonadas, de que é exemplo a rede de alta velocidade, que pôs metade do país a debater a sua necessidade e a outra metade a discutir por onde deveria ou não passar o TGV. Uns com bons argumentos a favor e contra o comboio de alta velocidade, outros com soluções técnicas à medida sobre os melhores traçados para o dito.
O mais curioso é que, ao nível político, nas mais altas esferas do Estado e no mundo empresarial, a alta velocidade provoca as mesmas acaloradas trocas de opiniões que nas vulgares conversas de cafés. De resto, o maior partido da oposição - que no Governo multiplicou as linhas de alta velocidade - não tem resistido a diabolizar o TGV, quer no projecto como um todo, quer no seu traçado. Raramente, porém, se ouve alguém questionar por que tem Portugal na região de Lisboa a mais densa rede de auto-estradas por quilómetro da Europa, ou se vale a pena o "país periférico que não precisa do TGV" possuir três auto-estradas paralelas entre Coimbra e o Porto, por vezes a distarem entre elas apenas sete quilómetros.